31 de ago. de 2012

A cabeça do poeta ferve. A maquina de escrever começa a esfriar com o ar gelado que entra da janela. Ele pega seu cachimbo e senta na soleira da janela a olhar sua musa. Ela dorme como um anjo enrolada em duas ou três cobertas. Faz barulhinhos dormindo e aconchega o nariz entre os travesseiros. O poeta segura a fumaça, prendendo o seu cheiro na memória. Os olhos dele encontram a lua. E ele se confessa.
O poeta teme, declara seus medos para a lua que deveria ser azul. Isso, o mesmo poeta que arrisca teme pela sua escrita. A poesia da sua vida esta longe de estar sob controle. Os sonhos de futuro se desenham nos formatos que o cobertor toma sobre ela. Ele ainda teme e treme com os desejos que aparecem. O poeta sonha, e quase cai do parapeito. O cachimbo apagado é o que menos preocupa, depois que certos traços são revelados aos olhos fechados.
O som da janela acorda a musa, que espreguiça e procura ele com os olhos sorrindo mais que os lábios. Cada traço misturado que vê, de olhos fechados, vira linhas infinitas de futuro. Ele a beija e sorri, sabendo do amor, tão poético quanto a mistura de olhos grandes com outros nem tão grandes assim.
O poeta grita um eu te amo, pra brincar com as cores dela, enquanto deita para faze-la dormir no seu peito.

24 de ago. de 2012

O poeta chega em casa já normalizado. Pega o longo cachimbo e um copo de Gim. Lembrou da aranha e pensou onde estaria agora o bom censo. Mas depois desistiu de pensar, afinal a aranha já o conhecia a bastante tempo. Pelo menos o observava como uma nova/velha amiga. Ele senta frente a maquina de escrever e faz pelo menos dois tratados sobre a intenção, enquanto se contorce de vontade na cadeira. Coçando os braços em busca de sua droga(my heroin) ele desfia outro rosário de poesias sinceras. O poeta fecha os olhos e deita o pescoço para trás e a mente viaja. Vai até uma casa tão velha que poderia morar nela, os vidros quebrados deixam o vento entrar e tocar o piano de teclas duras. O poeta vê seus passos e outros dois. Um pequeno outro um pouco maior.Cada cheiro sentido, cada gosto da casa e de sonho. O Gim e o isqueiro fazem de novo sua parte pra adoçar o sonho natural. Acordado o poeta sai do transe e escreve pra quem ainda não existe fora dos sonhos.

23 de ago. de 2012

O poeta acordou incomodado, parecia que algo aconteceria.
Chegou ao bar e depois de algumas cervejas, daquelas que dão dores homéricas de cabeça. No banheiro tão caído quanto o simpático e torto dono do bar. Sem chave o poeta usa a tranca metálica e volta os olhos pro teto. Um habitante daquele lugar o cumprimenta. Uma aranha. Ela desce do teto e gruda na caixa d'água da descarga. Depois de uns segundos observando o quanto ela era bela. Logo ela resolve abrir a boca. Elogiou os olhos do poeta e falou do sorriso. Comentou o quanto era dificil entende-lo, já que o observava naquele banheiro há anos(mesmo isso sendo impossível para uma aranha), e há tempos não o via tão diferente. Depois de três ou quatro conselhos o poeta sai, transtornado por tanto barulho e por tantas ideias que a aranha tinha lhe dado. De cima das escadas avista seus planos serem vivos, mesmo olhando de longe. Um dos conselhos brinca com a cabeça dele e os títulos dela. Cada gota amarelada no copo, cada abraço amigo desnorteia o poeta. Que desce as escadas e acomoda-se na cadeira, selando a boca pra evitar atropelas o tempo. O tempo agora passa devagar pro ansioso poeta. Que dentro de outro copo desiste de pensar e volta para os braços dela.

20 de ago. de 2012

O sol invade a janela, a gata ronrona deitada na soleira. Nos pulsos do poeta a promessa tatuada. Os sons que saem da gaita dele resolvem entrar na maquina de escrever que tem como relíquia. A casa de madeira brinca com todos os sentidos do poeta. O fumo verde agora fica na parte alta da estante, longe de pequenas mãos. A madeira das paredes e do chão estralam por causa do calor, o cheiro da madeira e maresia. As folhas da arvore que tem a casa a sua volta. Escadas em caracol. Pega o vidro trabalhado e colorido e coloca a água para cuidar da garganta da dona da promessa. Sentados na sacada de cima e o verde queimado leve deitados na rede. A musa e o poeta, tão coloridos quanto os desenhos espalhados no chão. Algumas caixas de lápis de cor divididos entre as musas uma grande e outra tão pequena. Agora dorme no quarto ao lado enquanto o poeta depois de outra tragada no vidro poetisa outras linhas para a musa/mãe.
O poeta acorda, seria um sonho?

17 de ago. de 2012

O poeta deita ouvindo a musa cantar, fecha os olhos e vai até o futuro em cada onda do som. De cima de uma arvore alta o cheiro da madeira nova. Os sons  de dentro da casa são das duas cantando novas musicas esperando por ele. O cheiro de incenso e rosas que carregava nos braços. Uma boneca de pano em uma das mãos. Dentro da casa o calor da lareira esquenta os braços frios e coloridos. No tapete de urso no chão mais de cinquenta lápis de cor e várias folhas desenhadas de várias cores. Um abraço apertado de pequenos braços gordos com olhos gigantes e brilhantes. No colo esmagada pelos peitos coloridos que apertam para beija-lo. No fim da noite o poeta se coloca na frente da maquina de escrever com a pequena no colo uma nova ode a beleza da mãe e musa que agora dorme.
A musica acabada nos lábios da musa e ele sorri, mal sabendo ela....

16 de ago. de 2012

O poeta desperta pra outro dia, o céu anunciava a chuva que não vinha. Os auto-falantes tocam a musica tensa, com as veias dilatadas ele andava inquieto. A calma toca no celular, minutos pro sorriso se abrir. O vento do lado de fora já anunciava, a musa estava perto. As escadas não fazem tanto sentido se não ouve outro barulho de passos que não os seus. Os sorrisos sonolentos e infantis pouco notam o quanto valem esses pequenos detalhes . A cada careta uma linha é escrita na cabeça dele, um traço novo pra outro personagem. A poesia nela e dela flui. Cada musica sentida nos ouvidos dele arrepia a alma. O sorriso dele coexiste ao dela até dormindo encaixado. Cada corte fundo na pele dele, soma pele debaixo da unha dela. Quando ela se vai junto com a noite, deixando a fumaça e o vento para trás, ela vira poesia. Vira palavra doce e sensação de nostalgia enquanto o gosto faz presença na boca e o amor na ponta do lápis vira outro escrito antes de dormir e esperar o novo dia com vento e poesia.

15 de ago. de 2012

O poeta adormecido sonha. A fumaça é leve dentro do próprio sonho, mas a cama é familiar. Os sons das ondas estourando do lado de fora. Os sons de dentro são suaves e cantados. As teclas do piano são divididas entre aquele de cauda na sala de madeira, e as costelas brancas dela, tocadas com destreza por ele. Os sons da vitrola rolando um bolachão antigo acaba e ao levantar, sem camisa o peota passa pelo quarto do lado. As paredes são forradas de palavras e poesias de ambos. Os sons de passos correndo pelo piso de taco. Pequenos pés gordos deslizam ainda molengas pelo chão enquanto o poeta pega uma câmera, o flash o acorda sorrindo.

14 de ago. de 2012

O poeta acordou sorrindo, mas um sorriso angustiado. O sonho anunciava o dia conturbado. O sol pouco ajudava escondido detrás de várias nuvens. Depois de gritar bom dia pro vento, levar pra musa, esquentou o café. Brincou com a faca e limpou a mesa para usa-la. Cada minuto angustiava as palavras. O céu abriu pra ele depois de um ou dois sopros, mas algo ainda ameaçava chover. Ele então encheu-se de cor, de amor tão livre, quanto as músicas soladas em instrumentos estranhos. Tão apaixonado pela sua poesia quanto sua musa ele vê gotas choverem no seu colo. Cada soluço corta o coração amante do poeta, que segura o mais forte que pode as contrações da poesia. Cada detalhe amedrontado e acuado, sensível e tão pouco entendida. Só percebida pela paixão louca dos dois. Para no fim das contas os sons que acabam enchendo o mundo são risadas. O colorido se abre para a musa, de peito aberto. O poeta entrega sua arte e sua alma, na ponta da faca e do lápis. Só para amar, gratuitamente. Cada detalhe. Com o cachimbo nos lábios o poeta desaba sobre a cama, sentindo o cheiro, esperando mandar nos sonhos.

5 de ago. de 2012

O poeta acordou ressabiado, a musica tocava alta quase dentro do ouvido. A batida começa a incomodar quando soa inconveniente. O dia passou com certezas e inspirações. Cada canto da mente trabalhava para um lado da arte de ser.
Uma reverencia ao mar e com respeito uma baforada pro céu. As arvores passavam rápidas do lado de fora  pra que tocasse. As cores que só acha nas linhas compridas e sinuosas da musa. Em cada deslizar de uma encaixando no umbigo sem desgrudar do pescoço dele. O cheiro dela impregnado na casa, na roupa e nas mãos.
Quando o dia resolve chegar ao fim, o poeta se levanta sobre a cadeira. Observa até onde alcança sua voz, e grita:
"Vida, aqui estou!"
Debruçado para fora da janela, vomita versos escritos na cabeça, sem jamais conseguir repeti-los. Tão perfeitos esses versos dados pro vento, emissário que levará e deixará no ar sempre suas palavras.
O poeta deixa pincéis, tintas e papéis. Muros e outros mais, ergue arte sobre arte. Entregando de volta o que o mundo lhe deu.
Agradecido com uma baforado ao alto, agradece pela poesia existir.