15 de jun. de 2014

O Poeta se descobre em casa, um rosto embrigadado e o corpo sem forças. O cachimbo pende na boca, enquanto agride os botões da maquina de escrever; o barulho ecoa pelo mato perto da casa. Enquanto a neblina de inverno invade a sala, o Poeta brinca, com violência nos versos, com uma poesia antiga de dona esquecida. Um ou dois cortes com estilete no papel e outra frase para colar no mundo. Descrente do mundo o Poeta ouve o eco da água filtrar a fumaça dentro da cabeça. Um ou dois tons abaixo uma linha fina a lápis e três ou quatro versos. Comprime em uma cápsula um milhão de sensações palpáveis e destila duas doses de uma bebida qualquer. O Poeta volta pra cama, enquanto nada faz sentido senão um mundo paralelo na ponta dos seus dedos.
O ´Poeta acorda de sobressalto, uma poesia brota na ponta dos dedos e o expulsa da cama. Ainda é madrugada e o céu está meio roxo, tipo café requentado. Ele vai até a geladeira e toma um longo gole direto do gargalo. A garrafa verde e baixinha, um licor de ervas fortes. Sem fazer careta outro gole desce. Na ponta dos dedos a poesia e a sinestesia do toque da pele;maldito sonho que tirou o sono e jogou pra fora da cama. Os versos fluem na velha maquina de escrever, enquanto o cachimbo infesta a sala de fumaça e cheiro de café. A musa deitada na cama mal sabe enquanto ele a observa. A pele branca e o vicio intenso sobre a mesa em flashes da ultima noite. As costas ardem com a quantidade de linhas vermelhas que Ela deixou estampado quase sobre a tatuagem.
Em segundos Ela some da cama e dissipa no ar, deixa o cheiro de dama da noite e de sexo no quarto. E o Poeta se contorce esperando que ela volte. Pra não acordar mais, mergulhado no seio do seu sonho.

5 de jun. de 2014

O Poeta pragueja o vento frio que vem da serra. Maldita chuva. Esquenta o bule de café incontáveis vezes ao dia. A cafeína é o menor das suas preocupações no momento. O inverno é como visita na cadeia, traz cigarro e desespero. As crises não cansam de se instalar, mas como não podia ser diferente esse ano o Outono chegou rápido rasteiro e devastador. Um a um os pedaços de rocha fogem do chão sob os pés o Poeta se esqueira onde sempre é firme e ali segura. As folhas molhadas deixam tudo ainda mais nostálgico. Maio acabou e acumulou junho e o frio. O Poeta já gastou rolos de papel e a maquina continua lá, emperrando, sem produzir. O mundo anda inquietado o Poeta, recostado na cadeira olhando a chuva enquanto fuma seu cachimbo em longas baforadas. O frio lá fora parece menor e a neve não vai tardar cair ali. A pergunta é quantos invernos ainda restarão?