29 de jul. de 2012

Com um arrepio de frio causado pelo vento, o poeta desperta do sono. O corpo nu, ainda trêmulo do arrepio. Mas a janela fechada intriga se já não fosse eminente o sorriso, nada inocente, preso aos lábios da musa. Captando cada detalhe dela pela ponta dos dedos, explora cada centímetro do corpo que lhe esquentava. Cada sopro que corria seu corpo, ela quase gargalhava quando eram as mãos dele que amassavam o travesseiro. A luz do dia ainda era fraca, mal amanhecia ou mal tinham dormido, sobre isso pouco podiam dizer. As bocas quando não ocupadas pelas línguas afoitas, estavam ocupadas acordando um ou outro vizinho. Cada pedaço de pele pouco lucida e suada, grita, mas não só pela boca. Grita arrancando a pele dele. Grita arrancando poesias faladas ao pé do ouvido, quase de dentro pra fora, da musa. Distorcidos pela pouca luz, contorcidos e amarrados dentro dos abraços. Um dia após o outro o poeta resignifica a vida. Dia após dia a poesia toma conta dele, em todos os seus sentidos.

22 de jul. de 2012

O  poeta vem a mim novamente, seus olhos esbugalhados de insonia e algumas drogas, os braços finos, olhos afundados. Cada parte do esqueleto à mostra. As mudanças grita, e derrubam a porta. Quebram as flores e queimam os quadros. Uns copos a menos e o poeta entende o que a garrafa vazia na sua frente quer dizer. Cada detalhe e palavra, entalhada no rosto escuro e fundo, que hora sobe à lua, frenético. Outros tempos despenca poço à baixo. As visões de futuro implícitos nas gratuidades, resolvem brincar com o tempo e a realidade.
O poeta grita palavras de amor para a noite, aconchegado atrás do volante de um carro sem dono. Aparelho eletrônico e uma direção na outra mão o alcool sacaneia mostrando mais de um farol no cruzamento, descontente o acelerados gritou e o poeta se desmonta em lembranças. Cada frio na barriga e coração disparado na presença  dos quereres.
O poeta cria e convence da arte que cria no fundo dos olhos da musa, que há muito se convenceu dessa loucura de apenas existirem. Um cavalete, um bloco de notas e uma barraca e o poeta se entrega ao sonho, perdido em teclas em preto e branco, e algum esmalte colorido que toque as teclas. O mundo se coloriu pro poeta. Que parou de cortar  a pele por dor e se marca por arte.