14 de jan. de 2013

O Poeta acorda, em meio a fumaça do incenso que queimava dentro da barriga do dragão, alguma coisa lhe faltava. Faltava o frio da montanha, e isso arrepiou-lhe a espinha, não sentia falta a tempos. O vento frio da neve cortando o nariz em pedaços. Ah a melancolia que faltava aos sons do quarto vazio de almas, todas desmembradas parte por parte no ultimo inverno. O frio começa a dar as caras em noites de frio e chuva acida. O Poeta se contorce na cama, conhecendo o perigo de ativar essa parte de si. As paredes  quase gritam, todos os absurdos que deveriam estar esquecidos ou enterrados. Mas um ou outro fantasma sempre escapa e volta, culpa do maldito barqueiro, que deve estar lendo ao invés de cuidar deles. Escorregando pela beira da cama e rastejando até o banheiro, reconheceu aquela cara, que já fora dele há anos atrás. Um grito entalou na garganta e não saiu, ficou preso em algum lugar no caminho. O Poeta brincou por segundos na corda bamba, e lembrou que a linha é tênue e fina. Já andou pendurado nela, mas esse tempo passou. Mesmo que a linha continue ali, a paz ainda é mais atraente e agradável que as antigas melancolias vestidas de branco e cinza. A guerra contra/com o equilíbrio, desvirtuado e equilibrado o Poeta volta a dormir, abraçado no travesseiro procurando cheiro de paz em meio a fumaça.