29 de mar. de 2012

Os olhos do poeta brilha com um novo presente, afiado. O cabo de madrepérola e lâmina escurecida. O metal se mancha de branco no frio do começo de outono. O vento arrepia a perna e afaga o cabelo amarrado. Os nós nos cabelos e a faca estendida na mesa, criam um cenário de pavor quase poético. Ao cair da noite a parte branca da lâmina continua a correr no sangue quente, que ferve ainda mais.
O brilho sem vida e pulsante das pupilas dilatadas do poeta, procuram em meio a desespero por sua musa, seu sangue que pinga já não sabe se do punho ou do nariz. Nenhum nem outro, o dedo queimado foi furado pela ponta da faca.
Visões de futuro distorcidas sobre o presente, embaçada por lagrimas e afagada no vento. Um ombro branco. Um sorriso cálido, calmo. Poesia em sua essência nos braços da musa, sua própria poesia, transloucada de amor.

23 de mar. de 2012

O poeta corre e escorre de um lado para o outro em frente a janela. O céu agora é escuro-ameaçador. o copo é transparente vazio. Os dedos amarelos e os olhos vermelhos. Perdido na névoa que ele mesmo provoca, ele comemora. Faz sinais para o vento e alguns feitiços velhos, aprendidos a tempos. Dispara segredos, abre os braços pro vento. Elemental o isqueiro aceso peitando o vento, escreve o manuscrito, uma nova/velha oração, um feitiço ou magia. Despacha pelo vento, em olhos fechados, observa o vento quebrar galhos e arrastar folhas.
Novo copo cheio, um brinde com outro pé de vento que entra pela janela do quarto, agitando e revirando poeira do chão e cabelos da cama. Quantos arrepios ao soltar cabelos no vento. Escorrendo entre os dedos, o perfume e a voz chegam ao peito. O poeta encara o céu, que devolve o olhar com uma e outra estrela fugindo da nuvem no meio da noite.
O poeta limita-se a gritar em silêncio, o que sussurra quase gritando no ouvido dela.

18 de mar. de 2012

O poeta aconchega-se ao frio do cobertor, a respiração é densa e alegre. Na frente do espelho reflexos notórios da beleza inerte e louca, que se desenvolve dia a dia. O vento frio feito ou natural desarruma a casa, os pelos e o cabelo.
A luxúria perplexa dos movimentos agora sincronizados ao raiar do sol atrás de algum morro por ai, enquanto o poeta ainda se perde na bruma louca do suor e gemidos baixos.
As estrelas que caem do céu para os olhos daquela que suspira sob os lençóis, escondida debaixo do travesseiro. Congelando o corpo descoberto, ela dança, se contorce e canta.
A voz rompe uma barreira ou duas e cala o chuveiro, cala a betoneira e o rock do vizinho. A fronha sofre as consequências dos gritos abafados, enquanto o colchão é sumariamente arranhado.
O quarto abafado pelo frio emana os cheiros delirantes e adocicados de tantos versos ditos em silêncio ou aos gritos exagerados.
Pobre poeta, com o próprio coração pulsante nas mãos ele ri, louco de pedra e joga pra cima e agarra de novo. O sorriso é largo e incrivelmente sóbrio, na medida do plausível.
A poesia apaixona as flores mais ásperas, pelo menos por fora, o poeta rega e cultiva uma das mais belas plantas carnívoras, de veneno fatal.